Diálogo pertinente: Literatura e História



Olá, my dears, mein lieber! 
Peço licença para reproduzir uma resenha que fiz sobre uma mesa redonda de um evento da qual participei. Inclusive abro aqui um parênteses, meu desejo também é divulgar e mostrar que existem muitas pesquisas ocorrendo, até em cidades "interioranas". E em divulgar significa que compartilharei o link da página do evento.  
Bom, espero que sirva de inspiração para busca de mais informações sobre o assunto.

E sobre o que a postagem vai falar? O título já é bem claro, o que é minha intenção, e resume a ideia principal da resenha. Ao final deixarei fontes, como um artigo que comenta bem a relação íntima entre Literatura e História. 
Minha resenha pode ter um viés de estudante de Letras? Sim, entretanto é um ponto de vista necessário, até porque com os meus argumentos, pode-se perceber que Literatura e História são irmãs e não inimigas. 

Boa leitura!


Diálogo entre História, memória e literatura
                                                
História versus Literatura? 

Existe um debate — ou debates — interdisciplinar em voga entre historiadores e letrados: a ficção poderia ser utilizada como documento para organizar o passado? Mas e quanto a Ilíada e Odisseia de Homero? Tão usadas como documento da descrição de uma guerra entre Tróia e Grécia, uma época sem registros, o assim denominado Período Homérico, tão apreciada por intelectuais como sendo arte. E o livro não poderia ser o instrumento de descoberta de um povo? A memória seria uma fonte de pesquisa? A história oral poderia auxiliar na construção da memória, sua linguagem e expressões próprias, e por consequência, registro de uma sociedade? Qual o papel da literatura atualmente? Qual o nosso papel como indivíduos históricos?
Essas perguntas foram inspiradas pela discussão da mesa redonda de Memória e Historicidades ocorrida no dia quatro de outubro de 2017 na FECLESC. Indagações que consequentemente podem criar a vontade e curiosidade de entender essa “briga” entre história e literatura, obscurecida e escondida nos bastidores do mundo.
 Trazendo desde Graciliano Ramos, com sua obra memorial Memórias do Cárcere, Leonardo Mota, com seu espírito linguista, até Jorge Amado em Capitães da Areia, é possível ver o quanto memória, história e literatura estão atreladas, embora haja negação desse convívio constante, mas há sim uma troca imprescindível entre eles. Afinal, o que teria acontecido com os estudos sobre a Carta de Pero Vaz de Caminha, hoje considerado o primeiro manifesto de literatura no Brasil? ­— Segundo Massaud Moisés e outros críticos literários. Teríamos que abandoná-la? E o que dizer do gênero crônica nascido nos jornais, mas agora publicado em livros, muito mais do que em jornais? 

 

Os primeiros romancistas brasileiros se sentiam imbuídos de descrever, organizar e descobrir o Brasil para assim dar uma identidade, se não criar, também escrevendo uma história, mesmo que através da ficção do povo brasileiro; lendas, mitos e a descrição de tipos nos mostraram que a ficção é a memória, o apalpamento de um país. E como até comentado pelo professor Dr. Fabiano Mendes (UERN) Balzac escreveu: “serei historiador do século XIX”. Proeza tentada por James Joyce, Marcel Proust e por escritores da língua Vernácula como o próprio Graciliano Ramos, Jorge Amado, embora ambos sejam do século XX.

“A lembrança da noite, do pesadelo extenso, do calor, do negro a coçar as pelancas nojentas, afligiu-me. Naquele estado, o estômago vazio, a garganta seca, ia estirar-me novamente na tábua suja, asfixiar-me, ouvir gemidos, roncos, pragas, borborigmos, delirar, avizinhar-me outra vez da loucura”. (RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere, Editora José Olympio, 1953. Vol. I, p. 152)
Amado que tanto defendeu a descoberta de nosso lugar na história e a nossa possível busca a partir desse achamento de nos livrarmos das “correntes” e lutar. E por esse motivo tanto criticado e procurado, tendo tido até seus livros queimados em praças públicas durante o Estado novo de Getúlio Vargas.
“Que culpa eles têm? Roubam para comer porque todos estes ricos que têm para botar fora, para dar para as igrejas, não se lembram que existem crianças com fome.” (AMADO, Jorge. Capitães da areia. Editora Companhia das Letras, 2008.)

 

Nunca existiu um limite claro entre literatura, história e memória. Seus caminhos se cruzam e chegam a se chocar, e as duas áreas retiram dessas relações as próximas mudanças que serão realizadas, inconscientemente ou conscientemente. Dessa forma a abertura, divulgação e apresentação dessa disputa é necessária, corroborando para que chegue aos leigos ou próximos estudiosos, criando gerações e gerações de pesquisadores preocupados com a busca como Leonardo Mota de salvaguardar as memórias de uma sociedade, por vezes negligenciada, ou então como a educação e demais direitos, trocados por objetos irrelevantes para que o povo não descubra seu lugar e sua verdadeira importância na construção da história.



Fontes
  

Link da página do evento

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