Destino traçado? Resenha de Édipo Rei

"Em certos momentos, os homens são donos dos seus próprios destinos."
William Shakespeare
Afinal, somos nós que decidimos nossos destinos ou criaturas sobrenaturais que habitam os céus? Ou o destino não existe? Nós criamos nosso futuro? É obra do acaso? 
No passado esse tipo de pergunta seria considerada uma heresia, já  que a religião dominava todos os meios e pensar era quase inaceitável. E mesmo assim estando no século XXI, ainda existe pessoas com o pensamento de que nossos destinos são traçados antes de nascermos e que a escolha de uma pessoa pode influenciar na maldição de outras. Será?

A resposta é diferente dependendo do ponto de vista, e pode fazer muitos discordarem ao ouvir alguém admitir a crença -- ou não, depende do círculo de pessoas que você está inserido ou sua própria cultura -- mas é incontestável que muitos foram os autores que usaram de perguntas como essa para criar suas narrativas. A Literatura cresceu graças aos nossos temores, as nossas raivas, angústias, alegrias, presentimentos, superstições, religiões, etc. E provavelmente, essa seja a sua beleza: a busca de respostas para nossa existência.

O ser humano sempre quis dar vazão aos seus pensamentos e a linguagem e consequentemente, a escrita, foram maneiras de compartilhar com o mundo o que guardávamos dentro de nós. Ou mesmo para passar ideologias e estatutos de moral e ética.

No post de hoje, vou resenhar um livro que inspirou o nome cunhado pelo pai da psicanálise, Freud, para um complexo psicossexual em crianças; a resenha de um mito que resistiu as intempéries dos anos e até as diversas destruições da Biblioteca de Alexandria.



Obs: uma postagem do ano passado busca filosofar sobre o porquê de existir Literatura, sugiro que deem uma olhada para uma reflexão. Boa leitura! 
http://thalyalee.blogspot.com.br/2015/05/a-literatura-como-sugiu.html

Édipo Rei 

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Sófocles foi um dos maiores poetas dramáticos da Grécia antiga. Édipo Rei (c. 430) narra a tragédia do homem que, perseguido pelo destino traçado pelos deuses, mata o pai e casa-se com a própria mãe.
Seu tema predileto, como o de toda tragédia grega, era o destino. Sófocles, embora tivesse o homem como o centro do mundo, acreditava no poder dos deuses e na predestinação. 



Ah, o destino... Muitos são os que ainda tremem diante desse nome. A nossa cultura está tão entrelaçada com a cultura da Grécia que ainda usamos as suas ideologias. E mesmo que não saibamos, muitas atitudes, medos, religiões e superstições gregas persistem em nossas culturas. Esse é nosso legado, o legado deixado pelos antigos; deixado pela miscigenação, catequização e domínio de outros.

Resultado de imagem para Édipo rei(Edição da MARTIN CLARET de Édipo Rei que li, essa é a edição antiga, há uma nova edição reformulada com uma capa mais simples, num tom verde com o título das duas obras no alto e uma diagramação melhorada.)


E nessa peça criada há séculos é basicamente sobre destino que Sofócles escreveu : um filho, no caso Édipo, que assassina seu pai e casa-se com sua própria mãe; o que faz sem tomar consciência da verdade.
A peça foi inspirada no mito de Édipo, um príncipe,  que herdou a maldição conjurada pelo rei Pélope de Élida, quem dera abrigo a Laio, pai de Édipo, quando este abandonara Tebas. Crisipo, filho de Pélope acaba por apaixona-se pelo hóspede e é correspondido, porém o romance não é aceito, já que Laio se trata de um estrangeiro -- veja que não tem a ver com a proibição de romance entre o mesmo sexo.
Bom, mesmo com a proibição, Laio rapta seu amado, mas Crisipo arrependido se suicida, causando grande dor ao seu pai, que ao saber, almaldiçoa o amante de seu filho e todos os seus descendentes.
Todavía, depois de todos esses acontecimentos, Laio tenta esquecer a maldição, e casa-se com Jocasta. Ele é feliz, contudo as palavras do rei revoltado ainda ecoam em seu ouvido e sentindo o temor de que a terrível maldição venha a ocorrer, ele busca o oráculo, onde fica sabendo que é inevitável, e então decide dá fim a vida dessa criança. Um plano frustado no final das contas.


A fascinação que a peça causa não é destruída mesmo com todas as informações, ou spoilers, já que nesse caso é impossível nunca ter escutado sobre Édipo e seu terrível destino, por ser tão famosa e inspirado, o tal famoso Complexo de Édipo.

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E é evidente que a fascinação advém da busca que Édipo empreende a fim de descobrir o causador dos sofrimentos do povo de Tebas, a cidade que se torna rei, e que como profetizado, desposa a própria mãe, depois de ter matado seu próprio pai, durante um desentedimento na estrada, quando fugia de Corinto, porque havia descoberto a profecia e não desejava que se concretizasse. Na verdade, o cumprimento de seu destino teve início a partir desse ato.

Para se tornar rei, Édipo encarou uma tarefa árdua, pois teve que enfrentar a temida Esfinge e resolver seu enigma, ou ser devorado.

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"Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e ao entardecer três?"
"O homem", responde o príncipe, "que na infância se arrasta sobre pés e mãos, na idade adulta anda e na velhice recorre ao auxílio de um bastão."

Se tratando de uma tragédia grega, dá pra imaginar o que ocorrerá no final, no é? Acho que não é preciso contar os detalhes ou pormenores, porque o que é necessário aqui, é analisar com profundidade a questão que considero de grande importância em Édipo Rei: a procura pela verdade de quem somos, de onde viemos e para onde iremos depois de descobrirmos.

Édipo é um herói típico, buscou a verdade, a sua maldição e de seus próprios descendentes, os filhos-irmãos que teve com sua própria mãe, e a encarou, decidindo-se se entregar às mãos do destino traçado pelos deuses. Seguir os planejamentos dos deuses era uma atitude louvada pelos gregos clássicos, e a cultura grega refletiu posteriormente em diversos aspectos da nossa cultura, inclusive no estereótipo do herói na literatura: aquele que encara seu destino com coragem e determinação, passando pelo processo de transformação, da ignorância para o choque da verdade, e enfim a luta para cumprir sua missão, a chamada jornada do herói.


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E então, meus queridos, o que vocês acham? Vocês acreditam em maldições? Ou que nossos destinos são predestinados antes de nascermos? O que você é? Você busca sua verdade? A verdade de quem você é? Você teria a coragem de encarar essa difícil empreitada? Qualquer que seja sua crença ou a escolha da não-crença, ou a vontade de descobrir-se ou de não descobrir-se, ou mesmo a determinação de descobrir a verdade, ou a sua falta, o que você não pode, é não ler essa tragédia, pelo menos uma vez na vida.

Por hoje é só, até mais!

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