Leituras desafiadoras

Olá my dears, mein lieber! Como estão? Peço perdão por fazer muito tempo que não escrevo no blog, mas é que a vida está muito mais corrida agora, com o início da minha vida universitária, então vai ser difícil vocês me verem postando. Todavía aparecerei de vez em quando para falar sobre minhas leituras -- rarefeitas, porque estou lendo mais textos para o curso, do que de ficção ou tudo relacionado à literatura. Mesmo assim, espero que me entendam.

Bom, no post de hoje irei falar sobre leituras desafiadoras, porque algumas de minhas últimas leituras foram espécies de desafios para mim. E decidi criar esse tipo de quadro -- vou tentar cumprir, pois eu tenho o costume de descumprir o que prometo aqui, exemplos estão nas primeiras postagens do blog... -- para comentar sobre livros que me impressionaram de certa forma.

Let's go!


O Amante de Lady Chatterley




   Poucos meses depois de seu casamento, Constance Chatterley, uma garota criada numa família burguesa e liberal, vê seu marido partir rumo à guerra. O homem que ela recebe de volta está paralisado da cintura para baixo, e eles se recolhem na vasta propriedade rural dos Chatterley. Inteiramente devotado à sua carreira literária e depois aos negócios da família, Clifford vai aos poucos se distanciando da mulher. Isolada, Constance encontra companhia no guarda-caças Oliver Mellors, um ex-soldado que resolveu viver no isolamento após sucessivos fracassos amorosos.
Último romance do autor, O amante de lady Chatterley foi banido em seu lançamento, em 1928, e só ganhou sua primeira edição oficial na Inglaterra em 1960, quando a editora Penguin enfrentou um processo de obscenidade para defender o livro. Àquela altura, já não espantava mais os leitores o uso de "palavras inapropriadas" e as descrições vivas e detalhadas dos encontros sexuais de Constance Chatterley e Oliver Mellors. O que sobressaía era a força literária de Lawrence e a capacidade de capturar uma sociedade em transição.



Biografia do autor 






David Herbert Lawrence ou D. H. Lawrence (Nottingham, 11 de Setembro de 1885 — 2 de Março de 1930) foi um controverso e prolífico escritor inglês, conhecido pelos seus romances, poemas e livros de viagens. Pertence à escola modernista.
A sua obra aborda temas considerados controversos no início do século XX, como a sexualidade e as relações humanas por vezes com características destrutivas e estende-se a praticamente todos os géneros literários, tendo publicado novelas, contos, poemas, peças de teatro, livros de viagens, traduções, livros sobre arte, crítica literária e cartas pessoais.
Em conjunto, a obra expõe uma alargada reflexão sobre os efeitos desumanizantes da modernidade e da industrialização. Os temas que Lawrence abordou tornaram a obra importantíssima para a compreensão de uma época influenciada por Freud e por Nietzsche.


Algumas Obras

Filhos e Amantes 
O Amante de Lady Chatterley
Mulheres Apaixonadas 




Quando escutei pela primeira vez algo sobre O Amante de Lady Chatterley, senti uma certa repulsa e criei um pré-conceito, do tipo:"uma mulher adúltera! Deve ser uma megera! Uma aristocrata acostumada a ter o que deseja. Ricos são assim." Sabe, o estereótipo da traição e infidelidade.

Eu estava errada. A obra escrita por D.H. Lawrence é sensível, crua, verdadeira e o principal, não maqueia a realidade. E é isso o que mais surpreende e pode chocar a muitos, afinal somos criados a considerar palavras sobre o sexo, pejorativas e vulgares. Porém não é isso o que Lawrence almeja com ALC, e sim nos fazer enxergar que sexo é algo tão natural quanto comer, beber água e etc, então por que temer? Por que correr com medo de nossos sentimentos? Por que esconder o que somos? Porque temer do que viemos?


"A mente tem um medo arcaico e insidioso do corpo e de suas
potências. É a mente que precisamos libertar, civilizar quanto a essas questões. O
terror que a mente tem do corpo deve ter levado mais homens à loucura do que
se pode calcular." 

Trecho de A Propósito de O Amante de Lady Chatterley 


E por causa do tema provocador que o autor tratou, ALC foi proibido em vários países. E portanto, todos que ajudassem na sua publicação seriam presos. E isso chega a ser cômico, porque quem proíbe certo material, não percebe que aumentará sua rentabilidade e fama.

No entanto, se alguém for para a leitura esperando apenas ''pornografia'', se decepcionará, pois há poucas páginas com esse contéudo. E essa é a grande sacada da estória, eu diria. Lawrence trata de questões mais profundas, como o vazio das ações das pessoas -- e até o próprio vazio das pessoas --, o abismo entre as classe sociais, o trauma que marca as vidas dos sobreviventes de guerra -- trazido em Clifford, o marido de Connie, paralítico --, o casamento tratado como um negócio que trará herdeiros e mais nada, e o tema mais recorrente: a transformação do homem em pura máquina, por causa da ambição em dinheiro e gastar dinheiro; os homens deixaram de existir e se tornaram quase como máquinas.


“A gente devia viver pra alguma outra coisa. Não pra ganhar dinheiro, nem
pra gente mesmos e nem pros outros. Agora a gente é obrigado. A gente é
obrigado a ganhar um pouco de dinheiro pra gente mesmos, e mais um bocado
pros patrões. Mas a gente devia parar! Pouco a pouco, devia parar. Nem percisa
fazer muito escarcéu. Pouco a pouco, a gente devia ir largando a vida industrial,
e voltar. Um pouco só de dinheiro já dá conta. Pra qualquer um, pra mim e pra
você, pros patrões e pros donos de terra, até mesmo pro rei. Um pouco só de
dinheiro. Um pouquinho só de dinheiro já dá conta. É só tomar essa decisão que a
gente se livra de toda a dificuldade.” 


Escrito em 1928 e publicado confidencialmente em Florença, O Amante de Lady Chatterley, continua atual e esse é um exemplo do grande poder da literatura, e o que talvez tornou a obra um dos clássicos.

“Porque quando eu sinto que o mundo dos homens está condenado, que
condenou-se a si mesmo por sua própria estupidez mesquinha, então eu sinto que
as colônias ainda ficam perto demais. Nem a lua fica longe o bastante, porque
mesmo de lá se pode ver a Terra, suja, feia, sensaborona entre os astros:
arruinada pelos homens. Nessas horas eu sinto que engoli bílis pura, que ela está
corroendo minhas entranhas e não há lugar longe o bastante para o qual se possa
fugir. Mas, quando tenho uma oportunidade, esqueço tudo de novo. Embora seja
um absurdo o que fizemos com as pessoas nos últimos cem anos: homens
transformados em insetos trabalhadores, toda a masculinidade removida, sem
qualquer vida autêntica. Por mim, eu faria desaparecer todas as máquinas da
face da Terra e acabaria de uma vez por todas com a era industrial, um erro
pavoroso. Mas, como está fora do meu alcance, e do alcance de qualquer pessoa,
prefiro calar a boca e tentar viver minha vida: se é que tenho uma vida a viver, o
que eu duvido muito.”

E aí vem a razão e a sacada de D.H colocar sexo na estória. Para ele, o sexo é o que trará a salvação do mundo-máquina. Mas calma... Não qualquer tipo de sexo, lógico. Só o que ele diz com ternura e delicadeza; o sexo sentimental.

"Eu acredito numa coisa. Acredito em ser gentil. Acredito especialmente em
ser gentil no amor, em trepar com gentileza. Acredito que, se os homens
trepassem com gentileza e as mulheres os recebessem com gentileza, tudo
acabaria dando certo. Esse sexo de coração frio é que é insuportável, e uma
idiotice.” 


Para ele, não somente o sexo poderia trazer calmaria para o mundo, mas contudo também, ternura e gentileza entre homens e mulheres, em todas as situações. E isso é claramente mostrado em um dos diálogos de Connie e Oliver. 

“Isso mesmo!”, disse ele. “Você tem razão. É isso mesmo. É isso, do começo
ao fim. Eu sabia, no exército. Eu precisava manter contato com eles,
fisicamente, sem nunca desistir disso. Precisava ter uma consciência física deles
— e também ter por eles uma certa ternura — mesmo que eu os fizesse passar
pelo inferno. É uma questão de manter-se consciente, como dizia o Buda. Mas
mesmo ele evitava essa consciência corpórea, e essa ternura física natural, que é
a melhor, mesmo entre homens; de uma forma devidamente masculina. E que
faz deles homens realmente humanos, e não tão próximos dos macacos. Ah! É a
ternura, de fato; na verdade uma consciência do sexo. Na verdade o sexo é
apenas toque, contato, o contato mais próximo que pode existir. E é o contato que
nos mete medo. Vivemos num estado de semiconsciência, vivemos apenas pela
metade. Precisamos nos tornar mais vivos e conscientes. Especialmente os
ingleses, precisam entrar em contato uns com os outros, um contato delicado e

terno. É nossa maior necessidade.”



Colocando em miúdos, a leitura é um desafio por tratar cruamente do que nos assombra e que tentamos escapar a todo custo, e na minha opinião, foi por isso que o livro foi proibido, contudo felizmente em 1960 pôde ser comercializado, e infelizmente o criador não viu o auge de seu sucesso. Mas eu acho que o que ele realmente queria, era ser eternizado, um dos poderes da literatura.


"Do medo do corpo e da negação de sua existência, os jovens
avançados passam ao extremo oposto e o tratam como uma espécie de
brinquedo, um brinquedo um pouco desobediente mas do qual sempre se pode
extrair alguma diversão antes que acabe. Esses jovens zombam da importância
do sexo, que encaram como mais um coquetel e com o qual escarnecem dos
mais velhos."

Trecho de A Propósito de O Amante de Lady Chatterley



Obs: existe diversas adaptações da obra de Lawrence, mas a mais recente, é esta, feita pela BBC no ano passado, que recomendo e muito. 






"O corpo sente fome de verdade, sede de verdade, alegria de verdade
ao sol ou na neve, um prazer de verdade com o perfume das rosas ou a visão de
uma moita de lilases; raiva de verdade, tristeza de verdade, amor de verdade,
ternura de verdade, calor de verdade, paixão de verdade, ódio de verdade, dor de
verdade. Todas as emoções pertencem ao corpo, e a mente se limita a
reconhecê-las." 

Trecho de A Propósito de O Amante de Lady Chatterley









Eu desejo uma ótima leitura a quem decidi se aventurar no ALC e espero que se não ler agora, que abra a mente e tente um dia. Livros bons de verdade, são os que nos deixam embasbacados, surpreendidos, nos mudam e saímos da leitura com uma visão diferente sobre a vida.

Até mais!

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